15 março 2006

Funcef teve prejuízo de R$ 2,6 bi na gestão FHC


"Mais uma vez, a CPI dos Correios mirou o governo de Lula e atingiu o de FHC."

Reportagem publicada nesta quarta-feira (15) pelo jornal Gazeta Mercantil revela que o fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal (Funcef) amarga um prejuízo de R$ 2,6 bilhões, decorrente de investimentos feitos durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (veja tabela ao final do texto). Segundo a matéria, um levantamento elaborado pela própria Funcef concluiu que houve "indícios de fraude, entre 1995 e 2002".

A reportagem demonstra que o governo anterior promoveu um "aparelhamento" nos fundos de pensão, avalia o deputado Carlos Abicalil (PT-MT).

"A matéria mostra de maneira inequívoca que, se houve aparelhamento, para usar a palavra do sub-relator (deputado Antonio Carlos Magalhães Neto, PFL-BA), esse aparelhamento foi feito pelo governo passado. Isso trouxe graves prejuízos", afirmou.

Confira a íntegra da matéria, assinada pelo jornalista Hugo Marques:

Funcef contabiliza prejuízo de R$ 2,6 bi
"Mais uma vez, a CPI dos Correios mirou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e atingiu a administração de Fernando Henrique Cardoso. Sob investigação da comissão, o fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal (Funcef) entregou a parlamentares um levantamento detalhando prejuízos de R$ 2,6 bilhões em investimentos, com indícios de fraude, entre 1995 e 2002. Conforme antecipado por este jornal no início do mês, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ) também informou à CPI dos Correios prejuízo de R$ 1,5 bilhão na gestão anterior.

O levantamento da Funcef foi concluído no mês passado e inclui empreendimentos sob investigação do Ministério Público e da Secretaria de Previdência Complementar. A Funcef chama mais de 30 negócios de "operações desastrosas", por não obedecer a quesitos de liquidez, segurança e rentabilidade. Entre dezembro de 1995 e outubro de 1997, "no primeiro mandato do então presidente FHC", diz o documento, a Funcef realizou 207 operações de contratos na Bolsa de Mercadorias & futuros (BM&F) e teve prejuízos em 205 delas. Somente estas operações somam uma perda atuarial de R$ 182 milhões.

O quadro dos investimentos da Funcef mostra uma perda atuarial de R$ 672,6 milhões com os empreendimentos Blue Tree Hotels & Resorts do Brasil a partir de 1998. Em todos os hotéis – em Brasília (DF), Angra dos Reis (RJ) e Cabo de Santo Agostinho (PE) – "os rendimentos não atendem às expectativas iniciais". No Rio de Janeiro, a Funcef amarga perda atuarial de R$ 44 milhões, decorrente de uma negociação que dispensou garantia mínima de rentabilidade, tomando "bastante frágil" a posição do fundo. O Serra Azul Water Park, outro empreendimento na área de diversões, provocou perda atuarial de R$ 95 milhões.

Em julho de 1998, "às vésperas da campanha de reeleição de FHC", diz o relatório, a Funcef adquiriu um lote de debêntures do banco Crefisul, que pertencia ao empresário Ricardo Mansur. A perda atuarial em valores de hoje é de R$ 27 milhões. Os administradores do fundo acompanham o desfecho do processo de falência da Crefisul para tentar reaver os recursos "subtraídos". Outro negócio com Mansur – que provocou perda atuarial de R$ 277 milhões à Funcef – foi a aquisição de debêntures da Casa Anglo Brasileira. O investimento foi feito "com várias evidências de risco".

A Funcef registra uma perda atuarial de R$ 373 milhões nos investimentos no São Paulo Renaissance Hotel. O relatório denuncia que o contrato de operações do hotel é "extremamente prejudicial" para o fundo e "muitas cláusulas pactuadas no contrato original revelam-se abusivas e prejudiciais aos interesses da fundação". Os ex-gestores da Funcef respondem a ação na Justiça por crime contra o sistema financeiro nacional.

O fundo dos funcionários da Caixa ainda vai contabilizar eventuais perdas com a venda da empresa Brasil Ferrovias. O relatório faz referências a aportes de R$ 682 milhões no projeto, até 2002, e informa que foram tomadas medidas de reestruturação "visando estancar os prejuízos e encontrar um meio de recuperar pelo menos parte dos recursos investidos no passado". O fundo dos funcionários da Caixa registra ainda perda atuarial de R$ 68 milhões com as letras financies do Tesouro de Santa Catarina, emitidas em 1996, e hoje pede na justiça a condenação do Estado por "danos patrimoniais".

Em 2004, a Funcef baixou como prejuízo de R$ 17,6 milhões a perda atuarial com a Teletrust, criada pelo Banco Marka para atuar como financeira. A Funcef ainda não fez um balanço dos problemas causados pela sua participação na aquisição do controle de empresas controladas pelo Banco Opportunity, de Daniel Dantas, entre elas a Brasil Telecom. "Depois de uma série de desmandos administrativos e gerenciais cometidos pelo Opportunity", diz a Funcef, os acionistas destruíram o banco da gestão telefônica. A Funcef confirmou ontem a autenticidade do levantamento enviado aos parlamentares da CPI dos Correios. O presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, está em Nova York."

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