Carta aos militantes petistas (I)
Companheiros e Companheiras,
Foi uma provocação do PT de Ibirataia-(BA) que me estimulou a começar a escrever sobre essa crise política, que se arrasta há meses, crise obviamente alimentada por uma direita raivosa, conhecida de há muito, e que não se conforma com um governo reformista, progressista capaz de começar um processo de transformação fundamental para a vida do povo do Brasil. Os companheiros de Ibirataia estavam incomodados com o discurso de um reacionário local, que espumava pelos cantos da boca contra o governo Lula, divulgando bobagens sem qualquer consistência. Ele navegava por sobre as ondas da parafernália midiática dos últimos meses.
Não vou iniciar essas cartas analisando os nossos erros. Eles têm sido discutidos à exaustão. É claro que farei isso ao longo da série que inicio hoje, mas creio que há algo mais urgente a fazer. Já pedimos desculpas de montão. Já reconhecemos erros. Afirmo que não somos um partido corrupto. Afirmo que somos o governo que mais combateu a corrupção em nossa história. E que somos um partido capaz de enfrentar os nossos equívocos, de fazer autocrítica e, por isso mesmo, em condições de prosseguir nossa caminhada com o objetivo de construir um Brasil democrático e socialista. Posto isso,
vamos ao que nos interessa aqui e agora.
Há um massacre midiático, discursivo em andamento contra o PT e contra o governo Lula, e nisso não há acaso. Não há nenhum fenômeno jornalístico verdadeiro que suscite isso. Há uma óbvia orquestração de direita - e que não se tenha medo da palavra -, destinada a enfraquecer uma experiência democrática e reformista em andamento. Que não se tenha medo também da palavra reformista. O governo Lula é um governo reformista. Goulart foi derrubado pela direita raivosa - com os militares à frente - pela simples razão de que era um reformista. Somos um país que não teve capacidade de levar à frente nem as mais elementares reformas. Estas, no caso brasileiro, perturbam o roteiro de nossas classes dominantes, acostumadas a privilégios raramente vistos em outros países.
O que impressiona, à primeira vista, é a incapacidade ou a timidez da reação do PT e da esquerda a essa investida furiosa da direita. Por muito tempo, temos permanecido nas trincheiras, sob bombardeio permanente, sem reagir à altura. É como se fôssemos os cordeiros de Deus, como se assumíssemos todos os pecados do mundo, para me valer de uma linguagem religiosa. Como se fôssemos agora condenados a purgar por um longo tempo os pecados da humanidade. Assumimos uma humildade - e essa palavra na política só cabe raramente - que não se justifica face aos nossos erros. Tratava-se, como se trata, de enfrentar os erros, e de seguir adiante, afrontando a direita raivosa, sem receios. E quando falo da incapacidade, ou da quase perplexidade, falo das direções e da militância.
A obrigação de nos defender é nossa, do PT. Não adianta lamento. Não cabe dizer que a maior parte do restante da esquerda ficou silenciosa. Um partido que não se defende não tem futuro. Somos nós que temos de erguer a nossa voz contra os absurdos que têm sido ditos, que temos de reagir a essa ofensiva da fina flor do reacionarismo brasileiro.Temos convicção de que somos importantes para o País. Somos a força mais significativa da esquerda brasileira. Os que se calam, à esquerda, têm suas razões, que não cabe a nós analisar nesse momento. Cabe isso, sim, levantar a cabeça, construir nosso discurso face a essa ofensiva. Um discurso que recupere nosso papel de protagonista fundamental de uma proposta que continue a levar a Nação no caminho democrático, reformista, progressista, capaz de, passo a passo, promover a revolução que nos retire da condição do País tão profundamente desigual, injusto que ainda somos. Precisamos recuperar a coragem que tínhamos quando na oposição. Coragem, dizia Hannah Arendt, é principal virtude de quem faz política.
Afinal, quem são nossos acusadores? São aqueles cujas vozes escutamos desde o início de nossa existência como Nação. São os que se locupletaram com os recursos públicos, os que se enriqueceram com o dinheiro do povo, os que mais recentemente foram os campeões da corrupção, os que apoiaram delirantemente a ditadura, os que se deliciaram com o governo Collor, alguns deles defendendo-o até o último instante. Nós não podemos apenas lamentar que personagens tão sórdidos, tão reacionários, tão corruptos sejam os que nos acusam de modo calunioso, injusto, pérfido. Precisamos elevar a nossa voz, reafirmar nossas propostas, defender a extraordinária experiência que tem sido o governo Lula e a história e o presente do Partido dos Trabalhadores.
Somos um partido nascido das lutas do povo brasileiro. Parte da história da esquerda brasileira. Que nasceu como resultado direto das lutas da classe operária, da resistência organizada pela esquerda brasileira à ditadura, da fé e da esperança dos religiosos que não se conformavam com as injustiças e a violência organizadas pelos militares após 1964. Um partido que, nascido em 1980, chegou à presidência da República em 2002. Que em apenas 22 anos, teve a capacidade de conquistar o direito de dirigir os destinos da maior nação da América do Sul. Temos a obrigação, com essa história, de resistir, de não aceitar passivamente essa ofensiva da direita raivosa brasileira. Creio que começamos a reagir. Sobretudo a partir do recente processo de eleições diretas dos nossos dirigentes, quando nossa militância demonstrou o quanto está viva e disposta à luta.
Saudações petistas,
Deputado Emiliano José (PT)
Salvador, fevereiro de 2006
Companheiros e Companheiras,
Foi uma provocação do PT de Ibirataia-(BA) que me estimulou a começar a escrever sobre essa crise política, que se arrasta há meses, crise obviamente alimentada por uma direita raivosa, conhecida de há muito, e que não se conforma com um governo reformista, progressista capaz de começar um processo de transformação fundamental para a vida do povo do Brasil. Os companheiros de Ibirataia estavam incomodados com o discurso de um reacionário local, que espumava pelos cantos da boca contra o governo Lula, divulgando bobagens sem qualquer consistência. Ele navegava por sobre as ondas da parafernália midiática dos últimos meses.
Não vou iniciar essas cartas analisando os nossos erros. Eles têm sido discutidos à exaustão. É claro que farei isso ao longo da série que inicio hoje, mas creio que há algo mais urgente a fazer. Já pedimos desculpas de montão. Já reconhecemos erros. Afirmo que não somos um partido corrupto. Afirmo que somos o governo que mais combateu a corrupção em nossa história. E que somos um partido capaz de enfrentar os nossos equívocos, de fazer autocrítica e, por isso mesmo, em condições de prosseguir nossa caminhada com o objetivo de construir um Brasil democrático e socialista. Posto isso,
vamos ao que nos interessa aqui e agora.
Há um massacre midiático, discursivo em andamento contra o PT e contra o governo Lula, e nisso não há acaso. Não há nenhum fenômeno jornalístico verdadeiro que suscite isso. Há uma óbvia orquestração de direita - e que não se tenha medo da palavra -, destinada a enfraquecer uma experiência democrática e reformista em andamento. Que não se tenha medo também da palavra reformista. O governo Lula é um governo reformista. Goulart foi derrubado pela direita raivosa - com os militares à frente - pela simples razão de que era um reformista. Somos um país que não teve capacidade de levar à frente nem as mais elementares reformas. Estas, no caso brasileiro, perturbam o roteiro de nossas classes dominantes, acostumadas a privilégios raramente vistos em outros países.
O que impressiona, à primeira vista, é a incapacidade ou a timidez da reação do PT e da esquerda a essa investida furiosa da direita. Por muito tempo, temos permanecido nas trincheiras, sob bombardeio permanente, sem reagir à altura. É como se fôssemos os cordeiros de Deus, como se assumíssemos todos os pecados do mundo, para me valer de uma linguagem religiosa. Como se fôssemos agora condenados a purgar por um longo tempo os pecados da humanidade. Assumimos uma humildade - e essa palavra na política só cabe raramente - que não se justifica face aos nossos erros. Tratava-se, como se trata, de enfrentar os erros, e de seguir adiante, afrontando a direita raivosa, sem receios. E quando falo da incapacidade, ou da quase perplexidade, falo das direções e da militância.
A obrigação de nos defender é nossa, do PT. Não adianta lamento. Não cabe dizer que a maior parte do restante da esquerda ficou silenciosa. Um partido que não se defende não tem futuro. Somos nós que temos de erguer a nossa voz contra os absurdos que têm sido ditos, que temos de reagir a essa ofensiva da fina flor do reacionarismo brasileiro.Temos convicção de que somos importantes para o País. Somos a força mais significativa da esquerda brasileira. Os que se calam, à esquerda, têm suas razões, que não cabe a nós analisar nesse momento. Cabe isso, sim, levantar a cabeça, construir nosso discurso face a essa ofensiva. Um discurso que recupere nosso papel de protagonista fundamental de uma proposta que continue a levar a Nação no caminho democrático, reformista, progressista, capaz de, passo a passo, promover a revolução que nos retire da condição do País tão profundamente desigual, injusto que ainda somos. Precisamos recuperar a coragem que tínhamos quando na oposição. Coragem, dizia Hannah Arendt, é principal virtude de quem faz política.
Afinal, quem são nossos acusadores? São aqueles cujas vozes escutamos desde o início de nossa existência como Nação. São os que se locupletaram com os recursos públicos, os que se enriqueceram com o dinheiro do povo, os que mais recentemente foram os campeões da corrupção, os que apoiaram delirantemente a ditadura, os que se deliciaram com o governo Collor, alguns deles defendendo-o até o último instante. Nós não podemos apenas lamentar que personagens tão sórdidos, tão reacionários, tão corruptos sejam os que nos acusam de modo calunioso, injusto, pérfido. Precisamos elevar a nossa voz, reafirmar nossas propostas, defender a extraordinária experiência que tem sido o governo Lula e a história e o presente do Partido dos Trabalhadores.
Somos um partido nascido das lutas do povo brasileiro. Parte da história da esquerda brasileira. Que nasceu como resultado direto das lutas da classe operária, da resistência organizada pela esquerda brasileira à ditadura, da fé e da esperança dos religiosos que não se conformavam com as injustiças e a violência organizadas pelos militares após 1964. Um partido que, nascido em 1980, chegou à presidência da República em 2002. Que em apenas 22 anos, teve a capacidade de conquistar o direito de dirigir os destinos da maior nação da América do Sul. Temos a obrigação, com essa história, de resistir, de não aceitar passivamente essa ofensiva da direita raivosa brasileira. Creio que começamos a reagir. Sobretudo a partir do recente processo de eleições diretas dos nossos dirigentes, quando nossa militância demonstrou o quanto está viva e disposta à luta.
Saudações petistas,
Deputado Emiliano José (PT)
Salvador, fevereiro de 2006
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