17 fevereiro 2006

"PSDB-MT foi financiado pelo crime organizado"

O juiz federal Julier Sebastião da Silva, da 1ª Vara de Mato Grosso, afirmou nesta quinta-feira (16), em depoimento à CPI dos Bingos, que houve caixa dois na campanha eleitoral de 2002 para candidatos do PSDB no Mato Grosso, incluindo o senador Antero Paes de Barros. Antero foi o candidato do PSDB ao governo do estado e, segundo o juiz, “parte do dinheiro utilizado em sua campanha veio das empresas de factoring de propriedade de João Arcanjo Ribeiro, conhecido como “Comendador”, que liderava o crime organizado no estado”. Atualmente Arcanjo cumpre pena de prisão de 49 anos no Uruguai por lavagem de dinheiro, homicídio e formação de quadrilha.

Julier Sebastião da Silva explicou a autorização que deu para que a Polícia Federal fizesse busca e apreensão na sede do comitê eleitoral do PSDB no estado. “Atendi a um pedido do Ministério Público que, em investigações contra o comendador Arcanjo, encontrou ligações das factorings com o Comitê Financeiro Único Estadual do PSDB. Eles tinham a lista discriminando as movimentações que ocorreram de agosto a novembro de 2002 e que revelam um aporte de R$ 240 mil a favor do comitê”, afirmou.

O senador Antero Paes de Barros classificou as afirmações do juiz de "calúnias", e negou qualquer ligação com o crime organizado. Em sua defesa, o senador distribuiu um documento de um termo aditivo apresentado ao TRE (Tribunal Eleitoral Regional) do contrato do PSDB com a factorings do comendador para descontar vários cheques. “O próprio senador está se auto incriminando”, observou a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC). Ela explicou que “partidos políticos, como bem ressaltou o senador Romeu Tuma (PFL-SP), não podem operar com factorings”. A petista lembrou ainda que o comendador Arcanjo operava as factorings ilegalmente, sem autorização do Banco Central.

Desvios
O juiz Julier informou ainda à CPI dos Bingos que nos processos em andamento no Ministério Público e na Polícia Federal já existem comprovações de que houve desvio de recursos da Assembléia Legislativa de Mato Grosso e do Departamento de Viação e Obras Públicas do estado. “Só da Assembléia Legislativa foram desviados cerca de R$ 80 milhões”, afirmou Julier.

Para a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) o depoimento do juiz foi sério, esclarecedor e necessário. Julier compareceu à comissão a pedido do relator da CPI (senador Garibaldi Alves Filho PMDB-RN), por ter sido o juiz que desbaratou a quadrilha do comendador Arcanjo que envolvia atividades do jogo do bicho, máquinas caça-níqueis, cassinos e operações de lavagem de dinheiro. “O juiz esclareceu também, com base em processos judiciais em andamento, a ligação entre o comendador Arcanjo e o PSDB do Mato Grosso”, acrescentou.

Embate
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) avaliou que as informações do juiz, principalmente os documentos que mostram as ligações do comendador Arcanjo com o PSDB, suscitaram um embate muito forte na comissão. “Não adianta exaltar os ânimos e atacar o PT. Existe uma denúncia e uma investigação em andamento contra o senador Antero Paes, no estado. E é isso que precisa ficar esclarecido”, afirmou. Suplicy se referia ao fato do senador tucano ter, durante a audiência, xingado o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o deputado José Mentor (PT-SP) e ter afirmado que o PT é o crime organizado do país.

Para as senadoras Serys e Ideli a postura do senador Antero é de desespero. “Espero que o PT tome as providências cabíveis em relação às declarações destemperadas do senador”, afirmou Ideli.

Por conta de desentendimentos entre senadores governistas e da oposição, o presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), encerrou a reunião da comissão. O depoimento do procurador do Ministério Público de Mato Grosso, José Pedro Taques, previsto para começar em seguida, foi adiado.

Agência Informes ( www.informes.org.br )

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