24 fevereiro 2006

Onde há fumaça, há fogo!


O velho ditado continua atual no cenário político. Nas últimas semanas, a sociedade permaneceu atenta aos noticiários para compreender melhor a questão da “lista de Furnas”, sem muito sucesso. A chamada mídia grande – O Globo, Correio Brasiliense, Jornal do Brasil, Estado de São Paulo e Folha de São Paulo – noticiou sem relevância a relação dos 156 nomes de políticos de expressão nacional que figuram entre os beneficiários no envolvimento de caixa dois de financiamento eleitoral, tendo como intermediária a alta direção da estatal Furnas Centrais Elétricas, durante o governo FHC. A lista indica que mais de R$ 39 milhões teriam sido recolhidos entre fornecedores da estatal e destinados a políticos candidatos nas eleições de 2002. Os três primeiros nomes são de atuais pré-candidatos tucanos à Presidência da República. Aliás, o PSDB teria o maior número de beneficiários potenciais, com 48 nomes segundo aquela lista.

Esse esquema de financiamento, se foi efetivado, seria mais uma “bomba” em ano eleitoral. A oposição demonstra preocupação e procura relacionar interesses escusos na sua edição. A antiga ordem dada - “vamos sangrar o governo” - era munição eleitoral que os popupava, até então. Agora, dá claros sinais para que os desgastes e prejuízos eleitorais tenham alcance em todos os lados.
Para alguns analistas políticos, a “Lista de Furnas” é um indicativo de “reversão de forças” na crise política.

O prudente perito, professor Dr. Ricardo Molina diz que por se tratar de uma cópia reprográfica, dificulta a análise, e alerta que “as conclusões definitivas dependem de um exame do original”. Não se pode garantir pelo exame de uma cópia a autenticidade do original, muito embora o 4º e 15º Ofícios de Notas, no Rio de Janeiro, reconheçam - por semelhança - a assinatura do ex-presidente e ex-diretor de Furnas, Dimas Fabiano Toledo, assim como a seriação dos selos apostos na cópia recolhida confira com o período do reconhecimento de firma pelo cartório.

O documento está em poder da Polícia Federal e começa a convocação dos acusados para prestar depoimentos.

Por essas e outras razões, sempre exigimos séria e ampla investigação com caráter republicano, sem paixões partidárias que ocultassem a verdadeira extensão e a origem dos esquemas pré-existentes de tráfico de influência, da advocacia administrativa, das relações de interesses com fornecedores e financiadores de vultuosas campanhas eleitorais. Mesmo tendo notícia informal da lista muito antes de sua divulgação, jamais fiz uso leviano de seu conteúdo. Não pactuo com os métodos que foram usados sistematica e abundamente contra o PT e contra o governo do presidente Lula. Já em 2002, em situação similar, o PT e o candidato Lula se recusaram a emprestar crédito à famosa conexão Caiman, que envolveria altas autoridades do governo passado.

O ex-deputado Roberto Jefferson confirmou à Polícia Federal ter recebido R$ 75 mil para sua campanha em 2002 e disse que a lista é “muito próxima da verdade”, pondo lenha na fogueira. A Polícia Federal e o Ministério Público devem continuar cumprindo o papel de investigadores com muita seriedade. Mesmo que a verdade pouco importe para alguns setores, o importante é a consistência e a legitimidade do processo.

Trazer à CPMI dos Correios o caso da tal lista pode ser nova cortina de fumaça para ocultar seu principal foco de investigação - os contratos eventualmente superfaturados, originados em 2000 - e a prorrogação do palanque eletrônico em que se transformaram muitas de suas sessões. Se quiser ter coerência investigativa, a CPMI terá de ouvir , antes, o denunciante, Sr. Nilton Monteiro, cujo requerimento está aprovado desde agosto do ano passado. Paralelamente, deve aprovar os requerimentos que trazem à CPMI os inquéritos policiais correspondentes. Só então, fará sentido, trazer o réu potencial, Sr. Dimas Toledo. Trazer o réu como testemunha e exigir uma declaração definitiva do Ministro da Justiça sobre inquérito inconcluso, como quer a oposição incomodada, é, outra vez, fazer fumaça.

Os poderes públicos devem uma satisfação responsável e consequente ao povo brasileiro.

O PT já confessou o seu pecado. Substituiu dirigentes, expôs parlamentares, abriu o sigilo fiscal, bancário e telefônico. Mais vasculhado do que o PT, ninguém.

O Presidente Lula cumpre o seu dever. Desde o início das denúncias de corrupção, posicionou-se em defesa da completa apuração, ciente de que um governo sério e democrático promove a transparência. Uma democracia madura, aperfeiçoa os instrumentos de controle político.

Tratar apenas da fumaça não resolverá o incêndio.


Carlos Abicalil é deputado federal, mestre em Educação/Gestão de Políticas Públicas pela UnB e professor da educação básica da rede estadual de Mato Grosso.

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