Antes de mais nada, é preciso registrar que, à Folha Online, Jungmann negou participação no esquema. "Esse é um processo que vinha rolando há quatro ou cinco anos, do qual só participei como testemunha. Foi com a mais absoluta surpresa que recebi a ação, já que não fui chamado anteriormente pela Procuradoria e só tomei conhecimento da notícia", afirmou à Folha Online.
A mesma matéria da Folha Online diz o seguinte: "Jungmann considerou 'estranho' o momento em que o Ministério Público do DF [na verdade, é o MP federal] divulgou a denúncia, em meio às suas articulações por uma terceira candidatura à presidência da Câmara. 'Eu acho que existem coincidências, mas quero me defender. Eu não posso deixar de estranhar esse momento em que a gente lidera a terceira via, em que brigamos pela moralidade desta Casa. Mas não quero clemência, quero rigor e Justiça. Eu vou até o fim', afirmou".
É preciso deixar claro que Jungmann nunca deu o direito de defesa a ninguém. Pelo contrário, prejulgou e linchou todos os investigados no caso dos sanguessugas e em outras denúncias, como se fosse um torquemada de plantão. Exigiu renúncia, afastamento dos cargos. Agora, quando é acusado de ser "chefe de quadrilha", quer para si o que negou aos demais e, além disso, ainda vê motivação política nas acusações.
Não é bem assim. Diz o Estadão (para assinantes): "Segundo os procuradores José Alfredo de Paula Silva e Raquel Branquinho, o esquema teria causado prejuízo de R$ 33 milhões e seria chefiado por Jungmann e por uma jornalista que atuava como assessora de comunicação do ministério. 'As provas colhidas revelam de modo claro a existência de uma verdadeira estrutura ilícita, nos moldes de uma quadrilha, destinada a dilapidar o patrimônio do Incra por meio de sucessivos desvios nos contratos de publicidade'."
Já o Globo detalha a questão da jornalista: "Segundo a ação, o esquema era chefiado por Jungmann e pela jornalista Flávia Torreão, então assessora de comunicação do ministério. Em 1999, Flávia foi desligada do gabinete e contratada pela Informe. Ela teria continuado a comandar o setor de comunicação do ministério e do Incra até Jungmann deixar o cargo, em 2002. 'Uma funcionária de uma empresa subcontratada comandava, na esfera do órgão público, o próprio contrato que originou a contratação', dizem os procuradores".
Fora isso, nenhum dos jornais lembrou hoje os fatos que estão na origem desta história. Procurando no sistema de busca da Folha Online, encontrei isso:
1. 22/04/2002 "Balanço do governo de 2001 inclui 'futuros' assentados"
2. 02/05/2002 "Terrenos vazios inflam dados da reforma agrário"
3. 30/04/2002 "Gasto de ministério com comunicação cresce 31%"
4. 12/05/2002 "Ministério gasta verba de assentados em publicidade"
5. 24/04/2002 "Nota de rodapé explica total de assentados, diz Jungmann"
Essas matérias ajudam a entender que havia um outro problema, o fato de que o Ministério do Desenvolvimento Agrário inflou o número de assentados – e, pior, esses números inflados foram usados em propagandas sobre a reforma agrária na gestão FHC. A coisa é mais grave, portanto.
Aí, como diz o deputado Jungmann, é preciso ir até o fim. O mínimo que ele tem que fazer é se desligar de qualquer investigacão e, mais, pelo critério que ele utilizou contra todos os outros parlamentares, deveria pedir licença do mandato até que as investigações terminem. Isso sem falar no tal "grupo dos 30", dos deputados que dizem defender a ética.
(Um lembrete: Raul Belens Jungmann Pinto ingressou no primeiro governo FHC como ministro de Estado Extraordinário de Política Fundiária de 30.04.1996 a 26.11.1999, quando se tornou ministro da Política e do Desenvolvimento Agrário e, depois, somente ministro do Desenvolvimento Agrário, saindo do governo FHC somente em 04.04.2002, para ser candidato a deputado pelo PPS de Pernambuco, mesmo Estado do presidente do partido, o ex-deputado Roberto Freire.)
Por fim, não é possível não dizer que, se fôssemos aplicar a Jungmann o que ele exigiu dos demais parlamentares acusados durante esses dois últimos anos – ignorando a presunção da inocência, que o ônus da prova cabe a quem o acusa e que a decisão final é da Justiça –, ele já seria culpado. Porque foi assim que Jungmann se comportou durante todas as investigações, como um verdugo, como um torquemada, sem o mínimo respeito aos direitos individuais dos acusados e ao devido processo legal – e, diga-se de passagem, com muita cobertura da mídia. Essa é a verdade que não pode e não deve ser escondida.
Do Blog do Dirceu